No meu artigo anterior, citei o conceito emergente do Open Health, apontando-o como uma das tendências promissoras no campo da saúde. O assunto, que em livre tradução é chamado de “saúde aberta”, ganhou força no Brasil e já é pauta de diversos painéis, congressos e convenções. Contudo, volto aqui com essa temática para refletirmos acerca de um aspecto fundamental: o aculturamento das pessoas a essa nova realidade.
Esta inovação representa uma revolução para a saúde, com vantagens para todos os envolvidos. Afinal, a modalidade se propõe a integrar todas as informações do paciente, por meio de um sistema digital, e em seguida compartilhar esses dados entre instituições de saúde públicas e privadas. É fato que essa ação deverá promover uma maior economia nos custos dos tratamentos. E, isso acontece porque o sistema ajuda a deixar tudo mais eficiente e evita repetições desnecessárias, como fazer os mesmos exames várias vezes em um ano. A cereja do bolo é que, com o acesso rápido e integrado às informações de saúde, os diagnósticos se tornam mais precisos e assertivos, ajudando a diminuir o tempo de hospitalização, tornando os tratamentos mais eficazes.
Mas, para que o conceito de “saúde aberta” se popularize no Brasil, é essencial que os pacientes reconheçam a propriedade e a importância dos seus dados de saúde. Paralelamente, os médicos precisarão se adaptar para gerenciar e interpretar um volume significativamente maior de informações. Essa habilidade não se limita apenas a analisar informações, mas também a integrá-las de forma eficaz na tomada de decisões clínicas e no planejamento de tratamentos personalizados.
A trajetória do Open Health no Brasil pode ser vista de forma similar à revolução que culminou com o vasto uso da telemedicina, após a pandemia do COVID-19. Até provar o seu grande valor, a medicina feita a distância enfrentou ceticismo e hesitação. A pandemia, com suas restrições e necessidades de distanciamento social, funcionou como um catalisador para a aceitação da telemedicina, elevando-a de uma opção marginal para um componente crítico no espectro do atendimento à saúde. Essa evolução transcendia o mero aspecto tecnológico, representando uma transformação abrangente na cultura de saúde, obrigando médicos, pacientes e instituições a se adaptarem rapidamente a novas dinâmicas de interação e cuidado.
Mas, então será que a “saúde aberta” ainda é um sonho distante para o Brasil? Nem tanto. Já temos pioneiros nessa jornada.
Em breve, um exemplo prático poderá ser visto. No Rio Grande do Sul, hospitais como Ernesto Dornelles, São Lucas da PUCRS, Mãe de Deus e Unimed Porto Alegre estão se unindo para integrar os dados de saúde das emergências. Isso permitirá que médicos acessem o histórico clínico dos pacientes em outros hospitais, uma ferramenta valiosa, especialmente em emergências em que o paciente chega desacordado.
O potencial é vasto e carrega a promessa de transformar diagnósticos, tratamentos e acompanhamentos médicos, além de fomentar pesquisas que beneficiarão a sociedade como um todo. Porém, para alcançar o resultado, é imperativo que encaremos esse movimento como uma jornada de aculturação, onde cada passo é dado com o cuidado de levar consigo todos os brasileiros.
À medida que avançamos em direção a um sistema de saúde mais eficiente, acessível e centrado no paciente, encontramos um desafio: é necessário investir não apenas em tecnologia e segurança, mas também na educação e na adaptação cultural de todos os envolvidos. O Open Health é, de fato, o futuro da saúde no Brasil, mas acontecerá somente se o abraçarmos como uma mudança cultural tão significativa quanto tecnológica. Um trabalho de formiga, que pode ser iniciado tanto por mim quanto por você, para que todos ganhem.